“A Intervenção Focada no Relacionamento vai muito além do ACP”

15 de fevereiro de 2023
María José Cid
Mª José Cid
Presidente da ISNA na Espanha (Associação de Estimulação Sensorial e Snoezelen)

Hoje conversamos com Mª José Cid, formada em Psicologia pela Universidade de Barcelona, professora universitária e presidente da ISNA na Espanha (Associação de Estimulação Sensorial e Snoezelen). Seu relacionamento com o mundo da estimulação multissensorial Tudo começou há 20 anos. Desde então, tem colaborado com FTF muitos anos como especialista de referência em Intervenção Multissensorial e Snoezelen.

Atualmente é responsável por certificar e homologar os profissionais que realizam a Formação como Terapeutas de Snoezelen. Além disso, desde 2010, é membro do Conselho de Administração da International Snoezelen Association (www.isna-mse.org), o que lhe permite ministrar formação a profissionais em Intervenção Multissensorial e Snoezelen.

Nos últimos dois anos formou mais de 1.000 profissionais no setor da dependência. Por esta razão, quisemos aproveitar a sua experiência para compreender detalhadamente o setor da formação desde o campo de intervenção.

Enquanto responsável pela certificação e homologação dos profissionais que realizam a Formação de Terapeuta Snoezelen, que diferenças percebe entre a formação que realizou há 10 anos e as de agora?

Basicamente, destaco que, atualmente, o conceito Snoezelen e a importância da intervenção sensorial são conhecidos pela maioria dos profissionais do setor.

Há 10 anos quase nada se sabia. A formação baseou-se mais em argumentar e justificar em que consistia o conceito de Snoezelen. Atualmente já se sabe e o treinamento foca mais em especificar o como do que em ter que argumentar o porquê.

Acha que os alunos adquirem as ferramentas necessárias através do Snoezelen Training para poderem realizar uma intervenção multissensorial nos centros?

Não é que eu acredite, mas demonstro isso em cada treino. Ele último módulo da formação, que certifica o aluno, consiste na apresentação pelo profissional de um caso prático com uma pessoa específica e na expressão da intervenção de Snoezelen.

É indescritível, impressionante, poder ver como o aluno concretiza, tanto no dia-a-dia da pessoa (Snoezelen 24 horas), como nas intervenções específicas nas salas e ambientes de Snoezelen, na prática, no acompanhamento e, sobretudo, como são observadas mudanças na pessoa.

Você está imerso em um projeto muito interessante chamado HUMANITUDE. Você pode nos contar um pouco mais sobre essa metodologia/filosofia de cuidado?

A humanitude é uma corrente teórica que se concretiza com uma intervenção prática que visa o “Bom Tratamento” para pessoas com demência e doença de Alzheimer e, também, para qualquer pessoa em situação de fragilidade e/ou vulnerabilidade (doença mental, deficiência intelectual, etc. ).

A humanitude surgiu em França há mais de 40 anos e, hoje, está difundida em muitos países do mundo, por exemplo, no Japão, onde faz parte da aprendizagem nas universidades de medicina, enfermagem, etc.; Cingapura; Portugal; Estados Unidos e muitos mais países. Em Espanha estamos a começar e já temos experiências e resultados impressionantes.

Trata-se de formar toda a equipa humana de uma instituição em Humanitude, a nível teórico, mas sobretudo na intervenção prática. Foca muito nos cuidados (higiene, por exemplo), situações em que a pessoa costuma apresentar maiores dificuldades.

Acompanhamos cuidadores e equipas dando ferramentas práticas para abordar e apoiar a pessoa. Os mais notáveis são os casos de recuperação da essência humana, com tudo o que este facto implica para a pessoa e na sua relação com os profissionais. É uma Intervenção Centrada no Relacionamento, que vai muito além do Cuidado Centrado na Pessoa.

Em que tipo de organizações poderia ser implementado?

Pode ser implementado em residências, centros de dia e serviços de acolhimento de pessoas em situação de dependência e fragilidade, como idosos com demência e doença de Alzheimer.

Além disso, para residências e serviços que atendem pessoas com deficiência intelectual. Em instituições para pessoas com doenças mentais é muito interessante e oferece resultados muito positivos.

Em suma, às instituições (residenciais e diurnas) que atendem pessoas em situação de fragilidade, dependência e vulnerabilidade.

Por outro lado, Quais você acha que são os desafios do setor de treinamento hoje?

Entendo que um desafio importante é nunca perder a perspectiva da pessoa atendida nos serviços. Frequentemente, focamos nos tempos atuais e nas novas tecnologias, perdendo de vista a pessoa final, ou seja, a pessoa que receberá o cuidado.

Em segundo lugar, para mim, um desafio importante são os profissionais. É fundamental oferecer apoio aos profissionais que cuidam das pessoas e uma formação que lhes dê ferramentas práticas e concretas para melhorar o seu trabalho diário. Bem como, oferecer ao cuidador evidências de resultados concretos, mas sempre com foco na humanidade.

Hoje em dia podemos entrar em formações muito específicas, muito inovadoras, mas que perdem a perspectiva humana tanto do cuidador como da pessoa cuidada.

As necessidades de formação do sector mudaram?

Acredito que o setor de cuidados às pessoas mudou e o foco deve continuar a mudar. O importante é entender o que significa CARE, para além do trabalho assistencial.

O setor necessita de conteúdos de formação focados na essência humana, no bem-estar, nos ambientes e no suporte. Esses conteúdos devem ser a essência da formação, ao invés de focar apenas em FAZER, devemos focar em SER.

Que áreas de formação são atualmente mais procuradas no setor social e da saúde?

A formação focada no cuidado das pessoas cuidadas e no bem-estar emocional dos profissionais é muito procurada. Neste sentido, tanto Snoezelen como Humanitude apresentam inúmeras evidências de bons resultados nesta dupla função.

Como poderíamos melhorar as competências dos profissionais para garantir que tenham uma carreira profissional nas entidades em que trabalham?

Devemos nos concentrar em oferecer aos profissionais habilidades pessoais e bom tratamento. Ofereça-lhes níveis teóricos e práticos (vídeos e intervenção direta) em cursos que mostram uma forma humana de tratar as pessoas. Mas, especificando integralmente os pilares relacionais.

Já existem muitos estudos que nos auxiliam nesse sentido, especificando como oferecer essa prática que gera uma relação diferenciada entre o profissional e o usuário.

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